24 de mai. de 2011

GREVE DO MAGISTÉRIO

Para quem quer ficar ligadinho e atento ao que vem acontecendo basta entrar no blog do Moacir Pereira, Jornalista e colunista do Grupo RBS. Abaixo transcrevo alguns textos publicados em seu blog.
(Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira)

A defesa da carreira

O que os professores vem relatando em depoimentos nas assembléias, nos comentários no blog do clicrbs, no twitter é de arrepiar. Não só pela condição a que estão submetidos por uma carga horária desumana sem remuneração compatível. Também pelas condições de trabalho. Há escolas em que falta material escolar, outras carecem de instalações e um terceiro grupo onde a gestão é zero. Sem falar na convivência. Afilhados políticos, muitos diretores estão mais ligados aos padrinhos do que comprometidos com o ensino. O mesmo vale para as gerências educacionais, igualmente partidarizadas.
A proposta do governo para acabar a greve nem foi considerada. Por dois motivos: 1. Não aplica o piso a todos na carreira; 2. Achata os salários, provocando desestímulo na formação. Professor com doutorado ganhará pouco mais que um colega com licenciatura. Que incentivo terá para procurar aprimoramento? E, ainda que a vocação imponha a educação permanente, com que condição financeira?
O governo agiu politicamente. Ofereceu condições de diálogo com os dirigentes do Sinte, mas não negociou nada. Criou um clima de acordo, mas a medida provisória sobre o pagamento do piso já estava pronta na sexta-feira. Foi apenas “comunicada” ao Sinte.
Tem-se um jogo com riscos em ambos os lados. O governo diz que chegou no limite de sua capacidade financeira e aposta que o pagamento do piso vai rachar o movimento e levar a metade do magistério de volta às salas de aula. O Sinte avalia o oposto, esperançoso de manter a unidade da categoria, a solidariedade dos que estão iniciando e o valor da carreira como incentivo funcional e salarial para todo o magistério.
Perdeu-se uma chance de avanço coletivo: dos justos salários a todo o magistério, da negociação politica, de mais qualidade na educação e de mais valorização da cidadania. Por tudo isso, o resultado foi frustrante.


Vale Alimentação de Professor é de R$ 6,00. Pode?

Já publiquei no twitter e dou mais detalhes aqui no blog. Ao final da reunião dos professores com o secretário Marco Tebaldi, depois de ouvi-los sobre o impasse e a medida provisória do piso salarial, conversei com vários professores.
Um deles, 29 anos de trabalho, especialização, leciona Português e Inglês, regime de 60 horas semanais. Começa a dar aulas as 7,30 e só volta para casa depois das 22,00 horas. Diz que não tem tempo nem para ir ao computador. Nos fins de semana dedica-se a corrigir provas. São 26 turmas e 700 alunos. Achei uma loucura. Fiquei incrédulo. Ele e os colegas disseram que não era exceção. Excesso de trabalho é comum.
Triste. O Vale Alimentação dele e dos professores é de R$ 6,00. Isto mesmo, seis reais. Dá, mal e mal, para um café com sanduiche. Valor congelado há anos.
Não há professor na face da Terra que resista a tanta pressão, tanto trabalho e tanto desestímulo.
Chega a ser desumano!

Sepultando o mérito

Atravessando meia noite, vou me recolher com uma reflexão. E dormir com muitas dúvidas.
A ordem do dia proclamada pelos modernos gestores não é “valorização do mérito”? Ganha mais quem tem mais estudos, não é assim? Tem melhores salários quem se dedica mais à instituição, não é verdade? Deve perceber melhor quem conta com mais treinamentos, aprimoramentos, diplomas, é isto?
Pois que alguém me responda, por favor: Em que empresa, grande ou média, que teve sucesso nos últimos anos, o empregado recém chegado ganha quase o mesmo de um antigo servidor, zeloso, estudioso, dedicado e com formação pós-graduada?
Em que organização vitoriosa – pública ou privada, empresarial ou cooperativa – os mais antigos, os mais especializados, os mais tempo na carreira – são excluídos de um reajuste salarial global?
Parece que estão querendo que soldado raso ganhe igual a general, é isso mesmo?
Ou que juiz substituto tenha salários iguais a desembargador?
Ou, ainda, ignorando todos os esforços individuais de aprimoramento intelectual e profissional constante?
Parece que o negócio é achatar, arrochar e desmobilizar. A qualquer preço e a todo custo.

700 alunos e 12 horas de aulas por dia

Seu nome, Aline. Sua escola, a estadual Irmã Maria Tereza. Adolescente loira, olhos avermelhados num rosto meigo carregado de esperanças. No meio dos professores postados frente ao prédio da Secretaria da Educação, ela também esperava a proposta conciliadora do fim da greve. A expectativa virou suspense, beirando a tensão. O movimento do magistério teria duas opções: ou o governo pagava o piso salarial sobre toda a carreira e eles iriam celebrar; ou a anunciada medida provisória vinha capenga, abrangendo apenas parte dos professores e a greve iria continuar. Deu o pior. Solidária, a jovem aluna explicava sua decepção. Queria melhores salários para seus professores, desejava retornar à sala de aula, acalentava muitos sonhos com seus colegas. Tinha vindo para ouvir a boa nova e recebera um balde de água fria.
O sentimento dos professores ali presentes era refletido num misto de frustrações, indignação e até revolta. Formaram coro para xingar o secretário. Lançaram slogans de críticas ao governo Colombo. Abandonaram as faixas e saíram em silêncio, num clima lúgubre. Mas em paz saíram anunciando mais greve.
Os que ali permaneceram faziam relatos dramáticos. Um professor da Escola Wanderley Júnior, com 23 turmas, 30 alunos por turma, 18 anos de atividade, ganha cerca de R$ 2.000,00. Chegou outro, melhor qualificado, que leciona Português e Inglês, duas disciplinas vitais na formação dos jovens. Tem regime de 60 horas por semana. Isso mesmo: 12 horas de trabalho por dia. Começa às 7h30m e só volta para casa depois das 22 h. Tem 26 turmas e 700 alunos. Descanso semanal, nem pensar. Aproveita sábados e domingos para corrigir provas. Pior: vai almoçar em casa todos os dias porque o auxílio alimentação dos professores catarinenses é uma indecência: R$ 6,00 por dia. Ou R$ 132,00 mês, contra mais de R$ 800,00 dos servidores dos outros poderes.

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